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quarta-feira, 21 de abril de 2010

A natureza desafia a humanidade BBCBRASIL

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A natureza desafia a humanidade

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Rogério Simões | 2010-04-21, 15:00

ashesblog.jpgUm vulcão de nome esquisito, na remota Islândia, fez o que nem os atentados e ameaças de Osama Bin Laden haviam conseguido: interrompeu por quase uma semana o tráfego aéreo em praticamente toda a Europa. Ciente do tamanho do estrago causado pela erupção do agora famoso Eyjafjallajokull, já que escrevo este texto de São Paulo em vez de Londres, para onde eu deveria ter retornado no último sábado, vejo que a natureza testa mais uma vez os limites da mobilidade humana.

Alguns já acreditam ser o início do fim do mundo: terremotos devastadores no Haiti, Chile e na China; enchentes sem precedentes no Rio de Janeiro e em São Paulo; nevascas que paralisaram França e Grã-Bretanha; e agora um vulcão afetando a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. A verdade é que o ser humano, cujas atividades têm contribuído para variações drásticas do clima na Terra, como já concluiu a comunidade científica, está cada vez mais exposto a destruidores fenômenos naturais. Antes de 2010, a última erupção na geleira islandesa de Eyjafjallajokull havia ocorrido no início do século 19, quando a humanidade só se deslocava sobre a terra a pé ou com o auxílio de animais. Para cruzar oceanos, a única opção era a navegação. Pois em 1821 o Eyjafjallajokull acordou, causando imensas enchentes, mas com prejuízo apenas para os moradores da ilha. Com a humanidade hoje completamente dependente do transporte aéreo (mesmo quem não voa geralmente consome produtos transportados por aviões), as cinzas do vulcão islandês atingiram em cheio as veias que alimentam a vida moderna.

O ativista britânico George Monbiot escreveu no jornal The Guardian que os transtornos causados pelo vulcão foram semelhantes aos vistos curante a crise financeira de 2008. Para ele, a humanidade é vítima de sua dependência de relações complexas com o mundo exterior, que passam tanto por ligações aéreas como por conexões online entre instituições financeiras dos quatro cantos do mundo. Ele sugere que nós optemos por uma vida mais simples, menos dependente da tecnologia, particularmente da aviação. O autor vem, há tempos, condenando tal indústria como um dos grandes vilões do aquecimento global e diz que, quanto mais dependentes formos de andar de avião, mais vulneráveis ficaremos.

O vulcão islandês provou que ele tem certa razão, mas qual seria a opção? Abandonar os avanços tecnológicos que permitiram que povos das mais diversas localidades pudessem se conhecer e se compreender melhor? A mobilidade e a interdependência não seriam avanços no desenvolvimento da humanidade, fatores de um mundo que, apesar de muitos percalços, tem hoje um sentido maior de unidade? Sem as tecnologias que aproximaram nações, do navio e avião ao telefone e à internet, não estaria o ser humano condenado a desconfiar e declarar guerra ao habitante de outras terras? Talvez. Ou talvez a humanidade chegue a um momento em que, obrigada pelas circunstâncias ou devido à sua sabedoria, consiga satisfazer suas necessidades sem desafiar seus limites naturais. Caso contrário terá de aceitar, não há saída: de tempos em tempos, será desafiada pela própria natureza.

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