FONTE ÚLTIMO segundo NYT
Ao passar pelas ruas de Istambul, na Turquia, Mustafa Erdik, diretor de um instituto de engenharia de terremotos, sente-se como um médico que observa a enfermaria superlotada de um hospital.
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Sua maior preocupação são as dezenas de milhares de edifícios espalhados pela cidade, construídos de forma aleatória, sem inspeção e com pressa, enquanto a população ultrapassa a marca dos 10 milhões (há apenas 50 anos, contava-se 1 milhão de moradores). Para alguns sismólogos, esses prédios “esperam se tornar destroços”. “Os terremotos sempre encontram o ponto mais fraco”, afirmou Erdik.
Istambul é uma das diversas cidades de países em desenvolvimento localizadas em áreas sísmicas, onde a população cresce mais rápido que a capacidade de oferecer moradia suficientemente segura para protegê-la de um desastre – que, em alguns casos, poderia ser ainda maior do que o terremoto do Haiti, em 12 de janeiro.
Roger Bilham, sismólogo da Universidade do Colorado, afirma que a crescente e cada vez mais urbana população mundial - que deve aumentar em mais 2 bilhões até o meio deste século e exigir 1 bilhão de habitações - enfrenta “uma forma não reconhecida de arma de destruição em massa: casas”.
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Paredes são reforçadas em escola primária de Istambul
Paredes são reforçadas em escola primária de Istambul
Segundo ele, sem uma expansão nos esforços para mudar as práticas de construção e educar as pessoas - de prefeitos a pedreiros - sobre modos simples de tornar estruturas mais seguras, é quase certo que a tragédia do Haiti seja superada ainda neste século quando um grande terremoto atingir Karachi, no Paquistão; Katmandu, no Nepal; Lima, no Peru; ou outra de uma longa lista de cidades pobres localizadas onde terremotos grandes são inevitáveis.
Em Teerã, a capital do Irã, Bilham calcula que 1 milhão de pessoas poderiam morrer em um terremoto de intensidade similar ao do Haiti (7,0 graus de magnitude). Em Istambul, um estudo estimou que um tremor deixaria de 30 mil a 40 mil mortes, além de ferir 120 mil gravemente.
Preparando-se para o pior
Entre as cidades ameaçadas e localizadas em países em desenvolvimento, Istambul se destaca por tentar ficar à frente do risco. Um primeiro passo foi dado em 2006, quando se traçou um grande plano para os terremotos. Criado para os governos municipal e federal pela equipe de Erdik e por pesquisadores de outras três universidades turcas, o plano é raridade fora de locais ricos como Tóquio e Los Angeles.
Seguir a longa lista de recomendações é um desafio, pois, como na maioria das cidades muito populosas, a maior fonte de pressão política em Istambul não vem de um terremoto iminente, mas do tráfico, da criminalidade, da falta de empregos e de outros problemas “em tempo real”.
Mesmo assim, as lições aprendidas com a devastação no Haiti aumentaram a urgência de uma ação em Istambul, que faz o que pode para escapar de seu próprio desastre. O esforço de preparação está vindo de cima, com códigos de construção mais rígidos, seguro para terremoto obrigatório e empréstimos de bancos de desenvolvimento internacional para melhorar ou substituir escolas e outros prédios públicos que sejam vulneráveis.
A prioridade é manter em pé estruturas vitais como hospitais, escolas e corpos de bombeiros. Por meio de um programa financiado com mais de US$ 800 milhões em empréstimos do Banco Mundial e do Banco de Investimento Europeu, a Turquia está no estágio inicial de fortalecer centenas de escolas vulneráveis em Istambul, além de importantes prédios públicos e mais de 50 hospitais.
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Crianças em escola de Istambul mostram saber como reagir a terremoto
Crianças em escola de Istambul mostram saber como reagir a tremor
Até agora, cerca de metade das 700 escolas definidas como alta prioridade foi reforçada ou substituída. Nos distritos onde o trabalho foi ou está sendo feito, estudantes, pais e professores expressam alívio, mas se mostram conscientes de que a renovação não diminui as chances de calamidade.
“As melhorias são ótimas, mas o prédio ainda pode ruir”, disse Serkam Erdogan, professor de inglês em uma escola primária próxima à costa, cuja construção foi reforçada e recebeu ajustes simples – como alargar as portas para facilitar a retirada. “Precisamos aprender a viver com esse risco. As crianças precisam saber o que fazer.”
Por isso, em uma sala da 5.ª série a assistente social Nazan Sati pergunta às crianças de 11 anos o que fariam se um terremoto acontecesse naquele exato momento. A princípio, todos levantam a mão, mas ela pede que mostrem, não falem. Então, todos se protegem embaixo de suas carteiras.
A ameaça para as crianças e seus pais está além das paredes da escola, em cada metro dos bairros tomados por estruturas chamadas “gecekondu” (“que aterrissou durante a noite”, em tradução livre). Elas foram construídas rapidamente nos últimos 10 ou 20 anos, enquanto centenas de milhares de migrantes de regiões rurais chegavam à cidade.
Esse tipo de construção é comum em muitas das zonas sísmicas mais instáveis do planeta. Bilham, da Universidade do Colorado, estima que apenas 3% das construções em andamento ao redor do mundo estão sob acompanhamento de engenheiros.
Peter Yanev, que foi conselheiro do Banco Mundial em engenharia de terremotos, ressaltou que, mesmo quando alguém com um diploma de engenharia está envolvido, não há garantia de que a construção será segura, porque há pouco treinamento especializado nos países em desenvolvimento.
Perante esses problemas, organizações não-governamentais treinam dezenas de voluntários em distritos pobres e os mantêm equipados com rádios, alavancas e kits de primeiros socorros para que estejam prontos a responder quando – e não “se” – o pior acontecer.
Mustafa Elvan Canteking, engenheiro turco que dirige o projeto (financiado por uma agência de desenvolvimento da Suíça), participou do treinamento de 49 equipes na cidade e viajou para Marrocos, Jordânia e Irã para ajudar a criar programas semelhantes.
Ele afirma que a dura realidade das dezenas de pequenas comunidades de uma megacidade é que, quando um terremoto acontece, elas têm de contar com elas mesmas. Foi o que ocorreu em 2008, quando um forte tremor atingiu a Província de Sichuan, na China.
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NONONOO
Voluntários trabalham em janeiro em Istambul
“A China tem a maior capacidade de defesa civil do mundo, mas ainda assim foram necessários três ou quatro dias para chegar às cidades destruídas”, afirmou. “Se um grande tremor ocorrer, pelo menos nas primeiras 72 horas você está completamente sozinho para se virar com o que puder.”
Por Andrew C. Revkin em Istambul
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