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domingo, 5 de setembro de 2010

A blindagem da ignorância

A palavra "ignorância" no sentido de "ignorar", desconhecer, falta de conhecimento.

A "ignorância" ou a falta de conhecimento científico em relação às mudanças climáticas.


Quando o leigo ouve falar em "Ciência", o pensamento que ocorre é o de um super-conhecimento, organizado, disciplinado, esquematizado e coerente, o que não ocorre de fato.

A "Ciência" é um processo de avanço lento, isolado, sem recursos financeiros, descobertas isoladas, muitas vezes sem recursos para testes de comprovação, e o que é pior, as novas descobertas são dependentes de aprovação ou contestação da "Comunidade Científica", que não acompanhou as pesquisas realizadas, e que geralmente contesta os resultados e conclusões relatadas pelo descobridor.

Via de regra, o investigador científico, de qualquer área do conhecimento, trabalha enfrentando imensas dificuldades, é olhado com desconfiança pelos seus parceiros de pesquisa, sem falar na concorrência desleal, e na vaidade pessoal de cada pesquisador, que não quer ser ultrapassado, nem contestado.

Sempre foi assim, em toda a História dos avanços científicos da humanidade.

Todas as grandes descobertas foram frutos de trabalhos isolados, de homens corajosos que não desistiram diante das dificuldades, diante da incredulidade dos outros cientistas que "ignoravam", falta de reursos financeiros, indiferença da opinião pública, e da própria comunidade científica internacional.

A descoberta da lâmpada, a invenção do automóvel, da penicilina, do rádio, da TV, do avião, do telefone, pesquisas sobre doenças que matavam milhares de seres humanos, por falta de vacinas e antibióticos.

Na Música, na Arte, na Cultura, na Flosofia, na Psicologia, Medicina, Engenharia, em todas as áreas do conhecimento humano, os pioneiros, os descobridores, os inventores, foram "ignorados" por seus conteporâneos "ignorantes"

A lista de desbravadores do conhecimento científico mostra a vida pessoal de verdadeiros heróis, solitários, num campo de batalha contra a "ignorância", ou melhor, contra o "desconhecimento" institucionalizado, sacralizado, com a bênção da "ignorância".

As mudanças climáticas, com as possíveis consequências geológicas, químicas, térmicas, físicas, e biológicas, é outro momento de grande desafio para os cientistas que pesquisam as fortes evidências de um aceleramento no processo de aquecimento global.

A "ignorância" é blindada. Fechada herméticamente, isolada, cheia de certezas e respostas prontas para todos os novos questionamentos e desafios climáticos.

Nada há mais estável, duradouro, permanente, eterno, imutável do que a "ignorância".

A "ignorância" é prepotente, onipotente, oniciente, não admite dúvidas, não faz concessões, nada questiona, e nunca tem dúvidas.

A "ignorância" não sofre, nunca perde o sono, e nem fica angustiada, pois na plenitude de suas certezas inquestionáveis, olha com desprezo para os que precisam de saber mais sobre questões não satisfatoriamente resolvidas, ou que podem avançar cada ve mais.

Os novos conhecimentos, as pesquisas inovadoras, criatividade sem limites, os novos paradigmas, as idéaias diferentes, as mudanças de posicionamento, a revisão de conceitos, tudo não passa de heresia e blasfêmia para a "ignorância"

Basta lembrar a reação da "ignorância" na Idade Média, diante das novas descobertas científicas, particularmente nas áreas de Astronomia, Biologia e Medicina.


A "ignorância" tem certeza de que já sabemos tudo o que nos é permitido saber, que o mundo é assim mesmo, que nada vai mudar por toda a eternidade, que estamos seguros, e os que ficam inventando novas idéias e conceitos não passam de loucos, ou coisa até pior.


A "ignorância" tem certeza de que as trágicas consequências sobre as mudanças climáticas, a real possibilidade de um acelerado processo de auto-extinção da humanidade, a necessidade de urgentes medidas preventivas para enfrentar os desastres ambientais, todas estas questões são a fértil imaginação de pessoas que deveriam procurar algo mais importante para cuidar.

A "ignorância" é blindada, nada a atinge ou afeta.

O conhecimento dos fatos é inquietante demais, angustiante, exige ações inovadoras, mudanças, o que é insuportâvel para os que "ignoram".

Por desconhecer os novos mecanismos e processos, ao avançar a Ciência, ou o conhecimento científico, a "ignorância" fica isolada, abandonada, perdida, desconcertada, diante do que reage com veemência, diante do avanço do conhecimento humano, o que abalaria o trono da "ignorância".


RUI SANTOS DE SOUZA
Brasil, Curitiba, 05 de setembro de 2010 - 05h:48

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