Rondon, defensor dos índios e patrono das Comunicações
Ethevaldo Siqueira
05/05/2015 - Neste 5 de maio de 2015, Dia Nacional das Comunicações, o Brasil celebra os 150 anos do nascimento de Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, uma das figuras mais notáveis da história do Brasil. Humanista, exemplo de idealismo, pacifista e protetor dos índios brasileiros, ele realiza ao longo de sua vida três grandes obras:
05/05/2015 - Neste 5 de maio de 2015, Dia Nacional das Comunicações, o Brasil celebra os 150 anos do nascimento de Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, uma das figuras mais notáveis da história do Brasil. Humanista, exemplo de idealismo, pacifista e protetor dos índios brasileiros, ele realiza ao longo de sua vida três grandes obras:
1. Lidera a construção de mais de 6 mil quilômetros de linhas telegráficas, que ligaria o Rio de Janeiro, então Capital do País, ao Centro-Oeste e à Amazônia;
2. Dedica-se de corpo e alma à defesa dos indígenas;
3. Conduz pessoalmente os trabalhos de demarcação dos mais de 8.500 quilômetros de fronteiras terrestres do País, e percorre essa distância duas vezes, em trabalho de inspeção.
Como reconhecimento de seu extraordinário trabalho, Rondon foi escolhido como Patrono das Comunicações brasileiras. Idealizador e primeiro diretor do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) – criado no governo do presidente Nilo Peçanha, em 1910, hoje Funai-Fundação Nacional do Índio, Rondon condena com veemência todo tipo de violência ou injustiça contra os indígenas brasileiros, que, em sua opinião, "são os mais legítimos donos das terras descobertas por Cabral".
Descendente de índios terena, bororo e guaná, nasce em 5 de maio de 1865, no povoado de Mimoso, então pertencente ao município de Santo Antônio do Leverger, no Estado de Mato Grosso. Em sua homenagem, o dia 5 de maio foi escolhido Dia Nacional das Comunicações.
Órfão de pai e mãe aos seis anos, Rondon é criado pelo tio Manuel Rodrigues da Silva Rondon. Adolescente ainda, acrescenta ao seu nome de batismo – Cândido Mariano da Silva – o sobrenome Rondon, do tio que o havia criado, para não ser confundido com um homônimo de má reputação.
Como defensor convicto dos indígenas brasileiros, Rondon se consagrou no País e no Exterior por seu lema profundamente humanista: Morrer, se preciso for. Matar, nunca. Segue e pratica esse princípio ao longo de toda a sua vida, inteiramente dedicada à pacificação humanitária e civilizadora dos trópicos.
Demarcando as fronteiras do País
Ao longo de sua vida, Rondon chefia diversas missões demarcatórias de fronteiras e percorre mais de 100 mil quilômetros de sertões, cruzando rios, picadas na floresta, caminhos toscos ou estradas primitivas. Em sua autobiografia, ele relembra com orgulho que percorreu e inspecionou por duas vezes, os mais de 8.500 quilômetros de fronteiras terrestres do Brasil, do Oiapoque ao Chuí.
Em suas incontáveis expedições pelos sertões do Centro-Oeste e da Amazônia elabora as primeiras cartas geográficas de territórios até então desconhecidos dos registros nacionais de cerca de 500 mil quilômetros quadrados, ou seja, uma área maior do que a França.
6,6 mil km de linhas telegráficas
Como líder da Comissão de Construção de Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso, ele comanda a implantação de mais de 6,6 mil quilômetros de linhas telegráficas, de 1890 a 1916, que interligam diversos trechos existentes entre a Capital do País, Rio de Janeiro, e São Paulo, e prosseguem até o Triângulo Mineiro e alcançam Santo Antônio do Madeira, na Amazônia, trabalho considerado o primeiro e gigantesco esforço de integração nacional por meio das Comunicações.
Para os índios, as linhas telegráficas são chamadas de "língua do Mariano". Rondon, por sua vez, diz que elas são as "sondas do progresso". Por essa obra extraordinária, Rondon ganha das Forças Armadas o título de Patrono das Comunicações Brasileiras.
Só no período de 1907 a 1909, Rondon percorre 5.666 quilômetros enquanto inspeciona a construção de linhas telegráficas e faz o levantamento carto-geográfico da região que forma o atual Estado de Rondônia, cujo nome foi dado em sua homenagem, por sugestão de Roquete-Pinto, que o considerava "o ideal feito Homem". A partir de 17 de fevereiro de 1956, o antigo Território Federal do Guaporé passa a chamar-se Território Federal de Rondônia – hoje Estado de Rondônia.
Anfitrião de Theodoro Roosevelt
Em 21 de janeiro 1914, inicia a histórica Expedição Científica Rondon-Roosevelt, em Tapirapuã, Mato Grosso, em companhia do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodoro Roosevelt (1858-1919). A expedição termina em 26 de abril de 1914 na confluência dos rios da Dúvida e Aripuanã, depois de percorrer quase 3 mil quilômetros pelos sertões de Mato Grosso e Amazonas, de ter descoberto nascentes de rios e ter refeito as cartas geográficas de Mato Grosso e vastas áreas do atual Estado de Rondônia.
Na opinião do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, esse brasileiro foi uma figura rara na humanidade: "Como homem –– Rondon tem todas as virtudes de um sacerdote. É um puritano de uma perfeição inimaginável na Época Moderna. (...) A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao norte, o canal do Panamá; ao sul, o trabalho de Rondon, científico, pragmático, humanitário".
Partidário do positivismo, Rondon participa dos movimentos abolicionista e republicano – mas recusa-se a apoiar todas as revoluções. É, com certeza, um dos maiores brasileiros do século 20.
Professor e engenheiro militar
Na capital mato-grossense estudou no Liceu Cuiabano, onde se diplomou, aos 16 anos, com distinção, como professor primário. Em 26 de novembro de 1881, o jovem professor decide ingressar no Exército Brasileiro e embarca para o Rio de Janeiro com destino à Escola Militar da corte imperial. Faz longa viagem fluvial de Cuiabá a Buenos Aires, de onde prossegue, pelo Atlântico, até ao Rio de Janeiro. A 6 de março de 1883, matricula-se na Escola Militar. Após cinco anos, concluiu todos os seus cursos, com distinção. É, então, nomeado Alferes.
Presta exames de estado-maior e de engenheiro e obtém o título de bacharel em matemática e ciências naturais. É promovido ao posto de Tenente e promovido a ajudante da Comissão Telegráfica de Cuiabá ao Araguaia.
Rondon inicia, assim, sua vida de sertanista. Pacifica tribos indígenas, levanta dados geográficos e cartográficos de extensas áreas desconhecidas do território brasileiro, inspeciona as fronteiras do País desde o Oiapoque ao Rio Grande do Sul, preside o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, cria Parques Indígenas, arbitra questões de fronteiras entre Peru e Colômbia.
Seu nome designa desde 1981 o Estado de Rondônia, um dos Estados da Federação, até então denominado Território de Guaporé. Por lei especial do Congresso Nacional, é elevado ao posto de Marechal. O Senado entrega-lhe as respectivas insígnias em sessão solene conjunta com a Câmara, em 5 de maio de 1955.
Patrono da Arma de Comunicações do Exército, por ato contido em decreto nº 51.960 de 26.4.63, Rondon foi reconhecido 27-04-1971 pela Presidência da República e pelo Ministério das Comunicações como o "Patrono das Comunicações Nacionais". O dia de seu nascimento, 5 de maio, como Dia Nacional das Comunicações.
Aos 92 anos, no dia 19 de janeiro de 1958, no Rio de Janeiro, numa tarde ensolarada, faleceu o grande brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon. Suas últimas palavras antes de fechar os olhos, foi o grito quase delirante:
"Viva a República".
"Viva a República".
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